sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Foto Claus Meyer/TybaDo alto, do solo ou da água, a Amazônia brasileira é um impacto para os olhos. Por seus 6,9 milhões de quilômetros quadrados em nove países sul-americanos (Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa) espalha-se uma biodiversidade sem paralelos. É ali que mora metade das espécies terrestres do planeta. Só de árvores, são pelo menos 5 mil espécies. De mamíferos, passa das 300. Os pássaros somam mais de 1.300, e os insetos chegam a milhões.

No Brasil, o bioma Amazônia cobre 4,2 milhões de quilômetros quadrados (49% do território nacional), e se distribui por nove estados (Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, parte do Tocantins e parte do Maranhão). O bioma é muitas vezes confundido com a chamada Amazônia Legal - uma região administrativa de 5,2 milhões de quilômetros quadrados definida em leis de 1953 e 1966 e que, além do bioma amazônico, inclui cerrados e o Pantanal. (Mapa: bioma, Amazônia Legal e Limite Panamazônia)
Sob as superfícies negras ou barrentas dos rios amazônicos, 3 mil espécies de peixes deslizam por 25 mil quilômetros de águas navegáveis: é a maior bacia hidrográfica do mundo. Às suas margens, vivem em território brasileiro mais de 20 milhões de pessoas, incluindo 220 mil indígenas de 180 etnias distintas, além de ribeirinhos, extrativistas e quilombolas. Levando-se em conta toda a bacia amazônica, os números crescem: são 33 milhões de pessoas, inclusive 1,6 milhão de povos indígenas de 370 etnias.
Além de garantir a sobrevivência desses povos, fornecendo alimentação, moradia e medicamentos, a Amazônia tem uma relevância que vai além de suas fronteiras. Ela é fundamental no equilíbrio climático global e influencia diretamente o regime de chuvas do Brasil e da América Latina. Sua imensa cobertura vegetal estoca entre 80 e 120 bilhões de toneladas de carbono. A cada árvore que cai, uma parcela dessa conta vai para os céus.
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Conhecendo a floresta 
É uma floresta tropical fechada, formada em boa parte por árvores de grande porte, situando-se próximas uma das outras (floresta fechada). O solo desta floresta não é muito rico, pois possui apenas uma fina camada de nutrientes. Esta é formada pela decomposição de folhas, frutos e animais mortos. Este rico húmus é matéria essencial para as milhares de espécies de plantas e árvores que se desenvolvem nesta região. Outra característica importante da floresta amazônica é o perfeito equilíbrio do ecossistema. Tudo que ela produz é aproveitado de forma eficiente. A grande quantidade de chuvas na região também colabora para o seu perfeito desenvolvimento.

Como as árvores crescem muito juntas uma das outras, as espécies de vegetação rasteira estão presentes em pouca quantidade na floresta. Isto ocorre, pois com a chegada de poucos raios solares ao solo, este tipo de vegetação não consegue se desenvolver. O mesmo vale para os animais. A grande maioria das espécies desta floresta vive nas árvores e são de pequeno e médio porte. Podemos citar como exemplos de animais típicos da floresta amazônica: macacos, cobras, marsupiais, tucanos, pica-paus, roedores, morcegos entre outros. Os rios que cortam a floresta amazônica (rio amazonas e seus afluentes) são repletos de diversas espécies de peixes.

O clima que encontramos na região desta floresta é o equatorial, pois ela está situada próxima à linha do equador. Neste tipo de clima, as temperaturas são elevadas e o índice pluviométrico (quantidade de chuvas) também. Num dia típico na floresta amazônica, podemos encontrar muito calor durante o dia com chuvas fortes no final da tarde.
A cultura da floresta
Florestas alagadas

No “inverno”, os rios das “florestas alagadas de várzea” da Amazônia podem subir até 15 metros.


De dezembro a junho, a região se enche de água. Animais e plantas precisam se adaptar para sobreviver a essas condições extremas.. Muitas árvores ficam com as copas inteiramente submersas. Os peixes invadem o interior da floresta e fazem o papel de dispersores de sementes, enquanto garças brancas percorrem os cerca de 3 mil lagos formados durante a vazante. As árvores têm troncos envoltos com camadas espessas de cortiça, folhas cobertas por cutículas para impermeabilização e, em alguma espécies, raízes aéreas para garantir o suprimento de oxigênio.

Floresta de terra firme 

Floresta de terra firme

A floresta amazônica é normalmente associada a um ambiente vasto, imutável e uniforme. Sua composição, no entanto, varia muito com vegetação, relevo e fauna específicos. De uma maneira geral, os principais ecossistemas podem ser divididos em ambientes de terra firme e ambientes inundados pelas cheias dos rios.

As florestas de terra firme são mata fora da influência dos rios, que nunca sofrem inundações e cobrem 90% da bacia amazônica. Estão localizadas em planaltos pouco elevados, de 60 a 200 metros, firmadas em solos profundos, até 50 metros, e bem drenados.

São os ecossistemas terrestres mais ricos em diversidade de espécies do planeta. Essa riqueza biológica resulta da união de fatores como o clima, a luz, a água abundante e as temperaturas amenas que, juntos, propiciam boas condições para o crescimento das plantas. A diversificação de hábitats, provocada por variações de solo, topografia e padrões de chuva, também favoreceu a adaptação de diferentes espécies. Acredita-se que outros fatores que influenciaram a riqueza biológica da região foram as mudanças climáticas e geológicas que ocorreram no passado, isolando frações do território que resultaram na diferenciação de animais e plantas.

No interior das matas de terra firme, dependendo da quantidade de luz que chega ao solo, pode existir uma maior ou menor quantidade de plantas arbustivas, palmeiras, ervas e cipós. Um grande número de madeiras nobres, como o mogno, o cedro e os louros, é encontrado nessas matas. As copas frondosas acabam por filtrar a quantidade de luz, colaborando assim com a existência de uma vasta mata arbustiva, fungos e cipós.
Foto Mark Bowler/PR/ Latinstock

As mandingueiras da capital paraense garantem resolver qualquer problema com suas "poções mágicas"

Elas afirmam que não existe mal sem cura nesse mundo. Seja doença, dor de amor, solidão, desejo de sorte nos negócios ou simplesmente espantar o mau olhado, basta encostar em suas bancas e relatar o problema. Em questão de minutos, uma mistura de ervas, raízes, cascas de árvores e partes de animais estará pronta ou uma garrafa com a poção será oferecida. Tudo acompanhado por alguma reza ou ritual a ser feito pelo interessado. Atrair a pessoa amada está entre os pedidos mais comuns, por isso nas bancas não faltam as ervas "folha de chama", "agarradinho-a-ti" e a "venha-a-mim".


Foto Silvestre Silva

A tradição amazônica aproveita o forte aroma das plantas tropicais para espantar mosquitos e outros insetos


A aromaterapia cabocla inclui a queima de ervas e raízes como incensos para perfumar o ambiente ou para espantar os temidos carapanãs, mosquitos da malária. No mercado Ver-o-Peso, por exemplo, predomina a venda das cascas do pau-rosa e do breu-branco para perfumar as residências quando queimados. Se a intenção é afugentar insetos, o ideal é uma defumação a partir da semente de andiroba, a priprioca e o cumarú. Há também as plantas usadas apenas como condimentos aromáticos na culinária. Para deixar um prato mais atrativo ao olfato, o saber tradicional da região indica a pimenta-de-cheiro, a alfavaca, a chicória e o coentrão. Os usos são múltiplos e estão em toda a sociedade da capital do Pará: do mais simples ribeirinho aos moradores dos bairros das classes média e alta.

Rituais

A preocupação com a higiene sempre foi uma das características dos povos amazônicos. O próprio costume do banho diário é considerado uma herança dos indígenas. Desta forma, muitos rituais foram criados utilizando produtos naturais da floresta, sofisticando os hábitos de higiene.

Os banhos de cheiro, por exemplo, são feitos com uma mistura de cascas de árvores e raízes nativas, raladas e depois dosadas de acordo com o aroma, dentro de uma cuia com água. A utilização dessa matéria-prima tem origem indígena, mas foi apropriada pelos portugueses que incorporaram as ervas ao banho das festas de São João. Hoje, muitas pessoas o utilizam o ano todo, sob a forma de garrafadas e com função relaxante e de embelezamento. Em cidades como Belém, Manaus e Porto Velho, os mercados são o ponto de vendas dessas poções.